Sob o sol escaldante, do portão de um orfanato emergem duas figuras altas: Heidern e Dolores. O portão de metal se fecha assim que eles entram na estrada, como se para apressar sua partida.
Mal piscando um cílio para o cajado do outro lado do portão, Heidern tira um tablet do bolso da camisa.
"Acho que ela não estava aqui afinal."
"Suponho que não. E que atitudes arrogantes eles tinham ... Não posso culpá-la por fugir."
Dolores gentilmente levanta sua moldura de ouro puro e olha além do portão. Franzindo um pouco a testa com suas palavras, Heidern pensa nas condições do orfanato que eles acabaram de examinar.
Com o diretor tratando-os como um par de rufiões, apesar de seu compromisso agendado, os berros raivosos do que pareciam ser membros da equipe à distância e as expressões sombrias das crianças pelas quais passaram nos corredores, ficou claro que não era um lugar feliz para as crianças viverem.
Os olhos de Dolores voltam para Heidern em algum momento, mas ele não dá atenção. Desapaixonadamente, ele fala.
"A busca pela garota é prioridade. Não viemos para consertar os problemas deles."
Dolores oferece um sorriso em resposta.
"Heh ... Certo. Mas há muito terreno a percorrer na cidade. Você realmente espera encontrá-la?"
"Eu prefiro que você não faça pouco de mim."
O comandante se afasta, Dolores seguindo logo atrás.
O alvo é um jovem grafiteiro emergente que mora na América do Sul e cujo trabalho faz sucesso entre os jovens da região e até mesmo no exterior por meio das redes sociais. Ela é capaz de ficar relativamente sem ser detectada, pois a artista aparecia em lugares inesperados, se apresentava e então desaparecia assim que a polícia aparecia.
Normalmente, procurar alguém assim em uma cidade desse tamanho seria um grande desafio. A menos que eles sejam um verdadeiro profissional.
"Com uma trilha como essa, não deve haver problemas em rastreá-la."
Parado à distância observando os jovens indo e vindo, Heidern pega seu tablet mais uma vez.
A multidão é composta principalmente por adolescentes locais, com alguns rostos mais jovens aqui e ali. Todos eles estão torcendo e assobiando freneticamente, apreciando as cores vivas voando diante de seus olhos.
Na frente deles, uma garota solteira está de frente para a parede, uma jaqueta amarelo brilhante esvoaçando atrás dela. Depois de colocar casualmente uma máscara de gás, ela segura latas de spray com as duas mãos e começa a pintar, ajustando sua posição com passos ágeis à medida que avança. À primeira vista, parece que ela é apenas uma artista normal repleta de talento e vitalidade. No entanto, são as mãos flutuando acima de sua cabeça que atraem o interesse.
"Identifique-se, Amanda!"
A
garota joga uma lata de spray no ar, onde é habilmente capturada por
uma estranha mão roxa que emite uma aura misteriosa. A mão então começa
a pintar em um local fora de seu alcance.
Essas
mãos têm uma forte semelhança com as mãos fantasmas controladas pelo
menino Shun'ei, mas menores e aparentemente sem força destrutiva. Além
do mais, eles se movem como se possuíssem vontade própria.
Sorrisos deixam os rostos dos espectadores ao perceberem a
aproximação de Heidern e Dolores, quase assim que a garota termina de
pintar.
"Você deve ser Isla."
A garota se vira em resposta a Heidern, puxando a máscara de gás de seu rosto enquanto o olha com desconfiança.
"E se eu for, hein? Quem quer saber?"
Isla
leva o par a um pequeno parque com quase nenhuma pessoa ao redor.
Parando ao lado do parquinho no canto da área, ela os encara de cima a
baixo com óbvia desconfiança.
"O Rei dos Lutadores? Você quer dizer aquela grande briga que um gato gordo faz? Eu vi a última."
A
garota assume uma postura intimidante e a encara com raiva, enquanto
suas mãos fantasmas - que ela chama de "Amanda" - se fecham em punhos
como se estivessem prontas para lutar. Embora ela pareça agressiva, ela
parece mais cautelosa do que hostil.
Depois de trocar olhares com Dolores, Heidern olha Isla nos olhos e começa a falar.
"Gostaríamos que você se juntasse à nossa equipe no próximo torneio."
"Por quê? Qual é o seu jogo?"
"Desculpe, mas eu não posso responder a isso agora. Eu só divulgo
informações em uma base de necessidade de saber. Ainda assim ... Eu
diria que entrar neste torneio seria para o seu benefício."
Heidern
encara Isla em silêncio enquanto sua expressão fica ainda mais sombria.
Dolores observa a poucos passos de distância, avaliando a garota à
distância.
Após uma breve pausa, Isla estala a língua em desgosto.
"... Bem, sim, eu poderia usar o dinheiro do prêmio para conseguir
uma boa comida para os pirralhos do orfanato. Além disso, eu e Amanda
ficaremos mundialmente famosos. Não poderia pedir mais nada. Mesmo assim
..."
A jovem puxa a aba do boné para baixo, sua voz baixando para um rosnado.
"Isso é suspeito como o inferno. Não confiaria em você tanto quanto eu poderia cuspir."
Seu interesse na conversa se foi, Isla vira as costas para o par. Amanda faz um gesto para mandá-los embora.
A
dúvida era natural - um casal de adultos que ela nunca tinha visto
antes de repente apareceu, pedindo-lhe para ir com eles. Não apenas
isso, mas suas experiências anteriores significam que ela nutre uma
desconfiança profundamente arraigada em relação às pessoas que agem como
se fossem altas e poderosas apenas porque são mais velhas do que ela.
Heidern começa a se perguntar se Leona deveria ter vindo para esta missão, dada a sua idade próxima do alvo.
Dolores quebra seu silêncio, sua voz cortando a tensão que paira sobre o parque.
"E se eu dissesse que aquele garoto ... Shun'ei, estaria neste torneio?"
Os ombros de Isla enrijecem. Ela para em seu caminho e lentamente olha para a mulher.
"Shun'ei ... Você quer dizer aquele rabugento com os fones de
ouvido que se juntou ao velho peido e aquele garoto narcoléptico da
última vez?
Ao contrário de antes, a voz da garota revela um leve interesse. Dolores estreita os olhos e ajusta a ponte dos óculos.
"Porque ele é a única pessoa neste planeta com o seu poder."
"...!"
"Você deve estar muito curioso, eu suponho. Curioso sobre esse garoto que é exatamente como você ..."
Isla
se vira para encará-los, com os olhos arregalados. Embora ela não
responda, o espanto em seu olhar e expressão rígida servem para
responder à pergunta de Dolores.
Permitindo-se um breve suspiro, a mulher continua a falar, o olhar frio perfurando a garota.
"Esse poder de controlar fantasmas ... Você nunca quis saber de onde ele veio, ou descobrir seus segredos?"
"O segredo ... de mim e Amanda ..."
"Se você cooperar conosco, prometo-lhe o seguinte: revelaremos tudo assim que você demonstrar plenamente sua capacidade."
Isla não consegue encontrar o olhar da mulher. Ao lado dela, Amanda cambaleia em pânico.
Uma
longa pausa se segue. O equipamento do playground range fortemente com
o vento, ressoando alto no silêncio. Algumas crianças correm atrás de
uma bola à distância, e Isla, com os olhos ainda baixos, finalmente abre
a boca.
"... Se eu trabalhar com vocês, vocês vão nos dizer qual é o nosso problema, certo?"
Ela mal parece capaz de formular a pergunta. Heidern responde calmamente.
"Sua colaboração viria com uma compensação proporcional. Isso eu posso garantir a você."
Isla
solta um suspiro longo e profundo em resposta. E então, balançando a
cabeça como se para se preparar, ela finalmente vira seu corpo inteiro
para encarar totalmente o par.
"Hmph, não pense que isso significa que eu confio em vocês. Vocês são todos iguais ... Mas ..."
Isla levanta o boné com um sorriso malicioso. Esse sorriso destemido é a primeira vez que Heidern ou Dolores a viram sorrir.
"... se você me tornar líder ...!"
